Caixa-preta
não gravou diálogos do voo de Eduardo Campos, diz Aeronáutica
Por Carolina Garcia e Vitor
Sorano
Equipamento continha apenas gravações anteriores; motivo ainda é
desconhecido
A
caixa-preta do avião de Eduardo Campos não contém registros do voo que
vitimou o candidato à presidência da República pelo PSB em acidente na
quarta-feira (13) em Santos, no litoral paulista.
Como a caixa-preta só
registrava áudio, e não dados, a inexistência desse material significa que não
há nenhum registro sobre o voo no equipamento. A Força Aérea Brasileira (FAB)
diz que as informações não são imprescindíveis para determinar as causas do
acidente.
Leia
também: Sistema de pouso é modificado após o acidente
"As duas horas de áudio,
capacidade máxima de gravação do equipamento, obtidas e validadas pelos
técnicos certificados, não correspondem ao voo realizado no dia 13 de
agosto", informou a FAB em nota divulgada nesta sexta-feira (15).
Normalmente, as caixas-pretas
guardam os registros de voz do último voo. Os motivos pelos quais as gravações
do voo de Campos não foram realizadas ainda são desconhecidos, segundo a
FAB.
"Não
é possível, até o momento, determinar a data dos diálogos registrados no CVR [Cockpit Voice Recorder, gravador de voz], tendo em vista
que esse tipo de equipamento não registra essa informação. As razões pelas
quais o áudio obtido não corresponde ao voo serão apuradas durante o processo
de investigação."
O modelo da aeronave usada por
Campos só tinha o CRV, que grava os sons internos da cabine, principalmente as
conversas entre os pilotos. Diferentemente de aeronaves de maior porte, o
jatinho executivo não é obrigado a ter o mecanismo chamado flight data recorder
(FDR), que registra os parâmetros de voo, como a velocidade, as posições em que
estavam posicionados os manetes e quais os comandos que foram acionados.
Por lei, a aeronave não pode
decolar se o CRV não estiver ligado, informou a Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac).
"O equipamento, embora não
seja um item de segurança, deve ser obrigatoriamente checado pelo comandante
antes do início do taxiamento", informou a agência, em nota.
Desligar
é possível, mas incomum
A ausência da gravação causou
estranheza entre pilotos de jatos.
O gravador de voz de uma aeronave
pode ser desligado deliberadamente, mas isso é considerado um procedimento fora
do comum, segundo o professor de Ciências da Aeronáutica da PUC-RS, comandante
Paulo Villas.
"Há
um circuit breaker [espécie de disjuntor]
que permite desligar, mas não é o procedimento operacionalmente correto",
diz Villas. Villas afirma também que alguns modelos de caixas-pretas
permitem que os registros sejam apagados, mas apenas após o pouso.
Com quase 15 anos de experiência
com táxi aéreo e aviação executiva, o piloto P., de 36, acredita que o
equipamento do jato particular de Campos possivelmente apresentou uma falha
técnica.
“Se ali não gravou é porque não
estava funcionando. No momento da crise, o piloto só consegue pensar em se
salvar e gerenciar a situação”, explica. Ele defende ainda que a Aeronáutica
poderia usar as gravações antigas do aparelho para identificar quando a
caixa-preta parou de gravar.
P. pilota
a aeronave King Air B-200, que conta com um botão “erase” [apagar, em inglês] no console central, que interrompe a
gravação da conversa dentro da cabine enquanto estiver pressionado. “Às vezes o
piloto tá no solo e não quer que a conversa saia da cabine. Aí dá para apagar,
mas logo que a aeronave é ligada ela [a caixa-preta] volta
a gravar. E é algo inofensivo porque apagamos conversas antigas”, conta o
profissional.
Procurada, a Cessna não informou
se o 560XL possui um botão semelhante.
Leia
também: Quem invetou a
caixa-preta
Avião
passou pelo meio de dois prédios; piloto disse estar cansado
O avião de Campos caiu por volta
das 10h da última quarta-feira (13) no bairro do Boqueirão, em Santos, após uma
tentativa de pouso frustrada. O piloto arremeteu e começou a fazer uma curva,
mas caiu em direção a um conjunto de imóveis baixos. Antes de atingir o solo, a
aeronave passou pelo meio de dois prédios.
As condições climáticas eram
desfavoráveis, mas não impediriam o pouso da aeronave, um Cessna 560XL
fabricado em 2010 com toda a documentação em dia. Na última comunicação feita
com a equipe de controle de voo de São Paulo, pouco antes da tentativa de
pouso, o piloto Marcos Martins não relatou nenhum problema e parecia calmo.
Dias antes do acidente, Martins –
que vinha prestando serviço para a campanha de Campos –, postou no Facebook que
estava "cansadaço" de tanto voar.
A FAB, por meio do Centro de
Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), informou que
analisará a carga de trabalho que o piloto vinha executando, mas que o
procedimento é padrão. A Polícia Federal também abriu inquérito para investigar
o acidente que matou Campos.
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